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terça-feira, 29 de março de 2016

EU E O OUTONO

Quando, a primeira vez, eu encontrei o outono,
num fim de tarde triste, em um parque fanado,
o céu resplendecia em ouro, como um trono.

     Andava pelo espaço um silêncio encantado,
     magnífico, oriental, mágico, deslumbrante,
     como se fosse a voz calada do passado.


     A velha fonte, outrora alva Ninfa cantante,
     que um lírio de cristal perenemente erguia
     para despetalar em música um instante,

         
    tinha os lábios sem som, de mármore, esse dia.
    Tombavam, como pranto, as folhas mortas. Era
    um imenso soluço verde de agonia 

       
    o parque, na atitude êxul de quem espera
    um mistério qualquer... Errava em todo o ambiente
    a saudade da derradeira primavera.


    As violetas, na sombra, iam-se lentamente
    esvaindo em perfume — ametistas de aroma
    que vestiram de luto a alma viúva do poente.

                                                 Alceu Wamosy