Parece estar
mais próximo do outro mundo. Está.
Quando dorme a profundeza do sono
o poeta rompe a porta das coisas
e vai às ilhas que ninguém conhece.
Vê na flor não o que a flor não é.
Vê na flor o singelo encanto
e furta das pétalas a luz do dia.
A lamparina acesa atravessa a madrugada.
Junta o alfarrábio e o tinteiro à escrivaninha.
Tece metáforas em silêncio
como se contasse segredos a ninguém.
Consigo já não pode. Nem com os demais.
Chora aqueles que perderam a amada.
Sente na mão a dor das chagas,
porque nele todas as dores se encontram.
Nasce a poesia.
E o poeta devolve às pétalas
a luz do dia
tecida em palavras.(Rudinei Borges)