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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Duas Flores


A terra boa é revirada, adubada.
As mãos do jardineiro cavam o chão.
A semente com cuidado é colocada.
Sepultada sob o húmus, sem caixão.

A água da vida é regada,
em instrumento já preparado.
Todos os dias a terra é molhada,
para o acontecimento tão esperado.

O sol aparece trazendo a cor,
bordando com ouro a neblina matinal.
Mas nada ainda, apesar do labor,
no revirado, adubado e cultivado quintal.

O desalento atinge o jardineiro.
No rosto triste a lágrima escorre
e o amor que devia vir por primeiro,
finalmente surge e à semente socorre.

Nasce a vida, num parto sem dor...
Naquele quintal, sobre o chão duro.
Da cor da esperança no futuro.
Fruto do trabalho e do amor...

Em paragens distantes sopra o vento,
derrubando da planta, já podre, o fruto.
O passarinho bica voraz, violento,
estraçalhando a polpa em um minuto.

Naquelas paragens o passarinho
até o penhasco o fruto carrega.
Alimenta os filhotes no ninho,
deixando a semente despencar da macega.

A semente rola, sobre a pedra desliza,
fincando-se no vão da imensa rocha.
Uma raiz surge, a umidade fertiliza,
e na escuridão, a vida brilha como uma tocha.

Na mágica da terra, da força se reveste,
desperta a si mesma, germina,
como se fosse a única, de leste a oeste.
Finalmente brota e a tudo ilumina.

Ali no agreste, no imenso muro,
de uma cor que não se engendra,
nasce a vida sobre a pedra,
fruto do acaso e do escuro...

Uma é solitária, forte e livre como o vento...
A outra cercada de mimos, frágil e cheia de alento...
Qual será a mais bela ?
Qual será ? Esta ou aquela ?

Sob o prisma de igual dilema,
ainda procuro da vida, o tema...
Será a Força ? Será o Amor ?
Será esta, ou aquela flor ?

TrovadorPR