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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"O Poeta"

Por haver quedas de água nos seus olhos,

é que é possível intuir, no sulco do poema,

a livre aprendizagem da vida.

Incessante, a sua voz se eleva em rotação de luz

e rompe o círculo das sombras

tão próximo dos lábios

que mais parece a íntima alegria de cantar.

Entre os seus dedos uma ave palpita,

perturbada, como se urdisse em seu voo

o perfil azul-claro das manhãs.

O poeta tem sonhos de barro

enrolados na garganta : o lugar

onde os deuses sopram

a pulsação das palavras

e refazem o sentido dos dias.

Graça Pires

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