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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Em Paz

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança mentida,
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.

Porque vejo, ao final de tão rude jornada,
que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;
que, se extraí os doces méis ou o fel das coisas,
foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando plantei roseiras, colhi sempre rosas.

Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas achei, confesso, as minhas noites de penas;
mas não me prometeste noites boas, apenas,
e em troca tive algumas santamente serenas...

Amei, fui amado, o Sol acariciou a minha face.
Vida, nada me deves. Vida, estamos em paz!


 Amado Nervo